Chego eu do trabalho, onde exerço uma posição social com alguma exigência a nível da apresentação (não que a respeite, mas aqui um dos critérios de inteligência é a roupa que usas e não o que sabes... mas divagações à parte) e venho com os meus saltos altos e calcinha vincada com casaquinho a combinar e os meus avôs não estão em casa... o que é estranho pois já estava a escurecer.
Decidi telefonar-lhes para o telemóvel (sim já têm e sabem atender e chamar alguns números) e o meu avô diz-me que foi ajudar um vizinho a ensacar as batatas (o que significa que o sr. conseguiu que alguém lhe comprasse batatas e é preciso selecciona-las e coloca-las em sacos de 20 kg). E pediu-me se lhe podia arrecadar as ovelhas (o que significa que elas estão num terreno a pastar e é preciso levá-las para a côrte- local onde ficam a dormir, também designado de cabanal).
E lá vou eu toda airosa e pensando que os meus avôs paternos eram pastores, logo poderia ter herdado algum talento, para além disso o meu signo é carneiro e tudo indicava que seria tarefa fácil, inclusivamente já tinha visto o meu avô a ir buscá-las e bastava fazer um som como um "cleck cleck" que se consegue deixando passar algum ar para dentro entre a língua e os maxilares, como se fosse um estalo (algo simples na realidade, não é nenhuma ciência, nem talento para meus males).
E são 5 ovelhas, não é propriamente um rebanho... Abro a cancela e faço o tal som para que me sigam.... nada disto aconteceu desatam cada uma a correr para seu lado, já fora da cancela e perto da estrada nacional... eu tento pará-las, chamo-as (apenas sei o nome de uma que é a rosita, as outras são filhas, netas e um enteado). Nenhuma me liga e correm ainda mais e nesse momento começa a chover mas mesmo a trovejar e chuva forte... começo a desesperar corro feita doida atrás delas e os pés enterram-se na lama, os meus saltos altos ficam nojentos, as minhas calças e estou a ficar toda molhada...
Agarro num pau que lá está e continuo a correr, tento encurrala-las e voltar a po-las dentro da cerca mas não consigo... pareço uma doida... e acho que já perdi algumas, deixa ver 1..2...3.4.. e a outra? Será que está na estrada?
Encontrei-a e percebi que as outras a seguiam, era o carneiro (o tal enteado da rosita), pelo menos acho que é pois não parece ter tetas e tem uns cornos maiores... neste momento tudo vale, observo-o e tento que se aproxime de mim, largo o pau para que não se assuste e finjo dar-lhe comida. Quando se aproxima agarro-o pelos cornos (sim sujeita a levar uma marrada, mas nesta hora já estava a desesperar) e fui-o encaminhando para a côrte, as outras seguem-nos. Ele bem se debate mas eu estou quase em cima dele e agarro-os com os dois braços, com toda a minha força, puxo-o para baixo, pareço uma toureira e só que em vez de touro mecânico seguro-me ao carneiro furioso e molhado.
Consegui leva-las todas para o sitio indicado e quando finalmente fechei a porta percebi que tinha corrido um risco enorme, que podia ter corrido mal e que os talentos não são herdados são trabalhados e até pode ser que tenha o bichinho da vida pastoril mas... tão cedo não me volto a arriscar!!
Foi uma aventura e sobrevivemos, pelo menos eu... elas por mais uns dias depois foram cozinhadas! Mais valia terem fugido naquela tarde chuvosa...