Obrigada pela Visita

Relatos de uma mudança de contexto... onde a vida nos leva! Fiquem para acompanhar, tudo se baseia em factos verídicos, são mesmo verdadeiros estes momentos!



segunda-feira, 26 de julho de 2010

Casting

Hoje e seguindo a linha de pensamento anterior... decidi enverredar pelo mundo artístico da música, porque não?! Pensei eu, recordando que em pequena tinha aprendido piano e até tive aulas de viola... talvez ande por aí o mundo por desvendar que me traga o sucesso e o ânimo de vida... (Ou talvez não)...

Observando o contexto em que me encontro, fui convidada para um grupo de Bombos que começa a dar os primeiros passos no seu desenvolvimento e a ter alguma visibilidade. O maestro em questão perguntou-me se estaria interessada em tocar gaita de foles ou, dentro do sector do bombo também poderia optar por "caixa" (um tipo de bombo mais pequeno). Confesso que a ideia me agradou, não só por implicar alguma convivência com pessoas como, quem sabe até poderia vir a gostar e ter que fazer deslocações no País e conhecer novos sítios.

Assim marcámos de ir a um casting para perceber com qual dos instumentos me identificava. Comecei pelo bombo... muito pesado, necessário muita força, o cheiro de pele de cabra incomoda e fiquei com dor nas costas... para além de que não é um objecto muito sexy e não combinava com nada que pudesse vestir ;) Ok esta opção foi cortada.
Passamos para a caixa, toquei, toquei, toquei... era mais agradável mas é necessário utilizar um ritmo muito acelerado e não conseguia acompanhar os outros elementos, sem ritmo é dificil... não vale a pena e fica também cortada esta opção.
Resta-nos a gaita de foles... comecei logo a imaginar as boquinhas das pessoas "ah agora tocas gaita... sopra na gaita" e por aí fora, mas tentando abstrair-me disso dou o meu maior esforço e sopro, sopro, sopro... começo a ficar vermelha, encarnada forte, roxa e sai um som tipo pppppuuuiiiiifff.... que vergonha, que horror!!! Juro que aquilo é bem mais dificil do que aparenta e quase sem respirar lá tento navamente...
o maestro observa-me com olhar estupefacto de tanta desilusão... e lá teve que me dizer:
-Bem parece que o teu mundo não é o da música... deixa lá, é pena.

Pronto e até nem ficaria muito mal se não fosse logo de seguida ter vindo uma criança de 3 anos soprar na gaita e dar um som bem maior que o meu!
É por estas e por outras que nunca segui este mundo artístico da música e a partir de hoje, música para mim só na televisão, no rádio e tocada por outras pessoas.... que tenham nascido com jeito e pulmões para ela!

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Se não sei para onde vou, como sei que lá cheguei?

Hoje dei por mim a pensar que deveria abrir um canil, ou comprar um carro antigo para restaurar, ou uma casa de pedra... enfim preciso de iniciar um projecto, de criar compromisso e obrigações... a situação de te sentires dona do teu tempo e das tuas decisões também te exigem responsabilidades e consequências. 
Estava habituada a ter o meu tempo 270% ocupado, sem tempo para tomar refeições completas, sempre em correria constante de um lado para o outro envolvida em mil e duzentos projectos e claro sempre com a ideia de que iria mudar o mundo. 


Hoje já não é assim... para começar tomo refeições à mesa, sendo todas completas com sopa, prato principal, prato secundário e sobremesa. Ao almoço vou a casa dos meus avós e faço-lhes companhia, o que sobra fica para o jantar. O meu avô está habituado a comer massa ou arroz acompanhados de batata, mais a carne e mais a salada. Para mim são dois pratos e normalmente escolho a massa para o almoço e as batatas para a noite (deveria fazer ao contrário eu sei mas gosto mais de massa, logo como mais).
Só por aí tenho engordado bastante desde que aqui estou, pois não gasto estas calorias, ou porque o trabalho não exige muito desgaste nem esforço físico, ou porque o horário é cumprido (coisa que antes me parecia utópico... hoje é mesmo tipo função pública:9h-17h com várias pausas para café e conversa).


Nos meses de Março, Abril e Maio a minha rotina semanal, a seguir ao trabalho era: 


Segunda: 
                        Hidroginástica e Cinema
Terça
                      Atelier de Pintura e Artes decorativas
Quarta
                      Hidroginástica    
Quinta
                     Atelier de Pintura e Artes decorativas
Sexta
                     Viagem para a Capital         


Agora a Hidroginástica está fechada para férias, só reabre em meados de Setembro. O Atelier é com uma colega de trabalho que foi perdendo a motivação e acho que também a paciência de me ensinar e aturar. (ok confesso sou uma aluna difícil)
As viagens vão sendo mais raras pois os custos são muito elevados e o cinema só existe nas 6ªFeiras, Fim de semana e 2ªFeira. 


Assim saio às 17h e tenho precisamente 16 horas em que não faço nada... E sinceramente há dias em que não me apercebo de onde perco tempo, porque ele passa a correr e nem o vejo (literalmente)!
Assim vou pensando em que fazer com tanta liberdade e surgem-me as coisas mais mirabolantes que possam imaginar, desde... Gostava de pintar o cabelo de vermelho (feito),  decorar a casa de novo (feito), pintar paredes (feito), plantar batatas (feito), semear flores, acho que até levo jeito para jardineira (feito e confirmado que não).... 


Ou outras como arranjar um carro antigo, comprar uma casa de pedra, fazer um interrail, arranjar mais animais, tirar outro curso... e vou pensando nos "e se eu tivesse sido", ou "e se eu tivesse ido ou feito"... o que acontece é que são tudo ideias que faziam sentido naquela situação, naquele momento, naquele contexto... agora e neste caso pareço uma adolescente a tentar reviver os momentos perdidos e os "se" deixados para trás.


Esta viagem tem sido uma oportunidade de dar com a cabeça contra a parede, de reviver expectativas e sonhos passados, de tentar perceber quem sou, onde quero chegar ... enfim de estar mais comigo mesma e de... por não ter mais nada com que me distrair e fugir... de ter que me conhecer!

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Dicionário Interiorês

Tenho o hábito terrível de apanhar facilmente os sotaques e acentuações linguísticas... Hábito este que, por vezes, é vantajoso pois me permite aprender mais facilmente uma língua e ser entendida, o problema é quando retorno à base e depois pareço aquelas emigrantes que vão 2 semanas para fora e esquecem o português.


Este fim de semana estive no Porto e apanhei o "anda aqui à minha beira" ou "senta-te à minha beira" assim como o prolongamento na pronúncia das palavras e claro as asneiras terminadas em alho e por aí fora. Delicio-me a ouvir as pessoas falar com sotaque, acho mesmo natural e genuíno.

Nos primeiros tempos que vim para aqui admirava-me cada vez que ouvia alguém falar e pensava: "olha aquela é do interior" depois caía em mim e percebia que eu é que estava no interior e a estrangeira devia ser eu. Uma das vezes foi na Mc'Donalds da cidade mais perto e por ser um restaurante com um ambiente tão familiar e padronizado até me esqueci de onde estava, até que a sra. me diz:


-Dexculpe o que bai dexechar a meunina?
(Parece que arrastam os ssss) 
Fiz o pedido e no fim ela respondeu:
-Bolte sssempre e Orólhe a conta na se esquecha


A amabilidade é também ela outra, verdade seja dita.


Outra coisa estranha que me acontecia era também em restaurantes e eventos sociais em que estamos distraídos numa actividade outrora habitual na capital e olhamos para as janelas e de repente observamos: montanhas, pinheiros, vacas, ovelhas e tudo verde com as pedras ao fundo... Nos primeiros impactos pensa-se "olha que giro, até parece o campo" depois lembramo-nos que o é de facto.


Agora, passado quase 7 meses, aqui vos deixo um mini dicionário da lingua interioresa:


                            No Interior diz-se:                              Tradução


                                   - Nagalho                                            -Atacador
                                  - Gadanha                                           -Concha de sopa
                                  -Dincouro                                            -Despido
                                   -Sertã                                                 -Frigideira
                                   -Vasal                                                 -Armário
                                   - Fonte                                               -Travessa
                                   -Apeguilho                                        -Acompanhamento do pão (exºqueijo)
                                  
Vou tentar ir actualizando-o à medida que for conhecendo mais algumas.


E terminando com uma frase muito característica e comum neste meio "bem tenho q'ir adiante." (Significa ir embora, antes ficava à espera que me indicassem onde iam, tipo que fosse ali perto e pensava ser um convite para os acompanhar... depois percebi que era uma forma de me despachar).

domingo, 11 de julho de 2010

Café ao Domingo

A minha avó é uma castiça, hoje convidou-me para irmos tomar um café ás bombas de gasolina (local chique, do mais fino que existe se comparado com a oferta, leia-se tabernas) até porque foi Domingo e nesse dia toda a gente vai à missa, traja a melhor roupa e depois de almoço vai ás bombas tomar café. Perguntou-me quanto seria pelos cafés e eu disse-lhe que devia ser um euro, reclamou que acha caro, mas como é Domingo e ela queria muito ir decidiu manter a oferta.


Seguimos para lá, vêem-se as pessoas do costume (até porque ninguém se desloca ali a menos que necessite de combustível) e cumprimenta-se toda a gente, pois é sinal de boa educação. Entramos e pedimos dois cafés, um para cada uma e a sra. traz os cafés como é habitual a meio da chicara pois é uma bica, a minha avó olha para o café e diz logo rapidamente:


-200 escudos e nem vem numa caneca cheia! Mal empregado dinheiro.


Ora toma!

sábado, 10 de julho de 2010

Mentalidades II

No outro dia, estava a regressar do trabalho e decidi passar pelo meio do povo, sempre se vê mais gente... encontrei uma sra. que é mãe de uma rapariga da minha idade e que tem 3 filhos e está emigrada. E conversa puxa conversa lá foi perguntando da minha família e que sabia que a minha irmã mais nova já tinha uma menina, que já está crescidinha e a família vai aumentando e... até que me disse:

-E já soube da novidade... 
- Pois é a minha prima também vai ter um bébé (disse-lhe eu)
- Não, eu queria era dar-te os Parabéns, já me contaram que ESTÁS GRÁVIDA!!!

Já lhe contaram... mas que raio andam a falar as pessoas aqui da aldeia?! Ok, eu sei que engordei. Mas poupem-me, se querem saber alguma coisa sejam mais directos... pensei logo em responder-lhe algo como "pois e você está MAIS VELHA" ou algo assim. Respirei fundo e disse que não, apenas estava um bocadinho mais gorda, mas que ainda não pensava ter filhos para já. E eis que ela me diz:

-Olha que já não tens muito tempo! 

Mas a mulher tá parva ou quê?!!! (Pensei eu.)

Meti-me no carro e fui danada até casa a pensar que sou a encalhada da aldeia (não que haja muita gente com quem concorrer no concurso dos encalhados do ano) mas para esta gente eu tenho algum problema... 

Tenho namorado, tenho planos futuros, tenho emprego, tenho uma profissão... e tenho uma sobrinha, um cão, uma tartaruga, um peixe.. enfim já tenho descendência (ok é indirecta ... mas é). 

O governo devia era financiar o Meo ou a CaboVisão a esta gente...


quarta-feira, 7 de julho de 2010

Ofereceram-me Azeite

Estou a acompanhar uma situação familiar a nível do domicílio, em termos profissionais consiste em fazer uma visita semanal e saber como estão as pessoas e como tem sido a evolução, por aí fora. 


Aqui neste ambiente mais familiar e modesto as pessoas sentem-se em dívida para quem trabalha ou mostra alguma preocupação (coisa que não é nada mais do que o meu trabalho) e tentam agradecer oferecendo algo em troca.


Neste caso a sra. esteve a mostrar-me a casa e quis que comesse chocolates, que tomasse um chá, que comesse um pão com queijo... enfim e continuava a insistir mas eu, por motivos éticos não poderia aceitar. Para que mudasse de assunto resolvi dizer-lhe para irmos dar um passeio e conversarmos enquanto andávamos, pois estava o tempo agradável.


Descemos as escadas e foi mostrar-me os animais que tinha (coelhos, galinhas, cães, um burro e um porco) entretanto começou a oferecer-me os animais e eu insistia que não queria, fomos ver os coelhos que tinham parido recentemente e perguntou-me se queria um coelho?! Confesso que eram tão fofinhos que fiquei tentada a dizer que sim, já me imaginava a criar um coelhinho e fazer festinhas, são mesmo fofinhos e cabem na palma da mão de tão pequenos... mas resisti e afirmei que não era necessário, que agradecia muito mas que não tinha espaço para ele. 


Ela logo prontamente disse:


- mas só lho ia dar depois de crescido, já morto para fazer um belo arroz de coelho.


Que horror!!! que brutalidade (pensei eu)


De seguida ela disse:


-Só se quiser que lhe mate já um, leva um destes maiores.
-Não, não deixe estar, a sério. Obrigada (respondi eu)
-Olhe das duas uma ou leva o coelho que vou matar ou leva um litro de azeite
-ok o litro de azeite!


E foi assim que destruindo toda a minha ética e moral saí de casa dela com um litro de azeite... mas a vida daquele coelho pareceu-me mais importante...
se bem que sei que não será longa, mas....