Obrigada pela Visita
Relatos de uma mudança de contexto... onde a vida nos leva! Fiquem para acompanhar, tudo se baseia em factos verídicos, são mesmo verdadeiros estes momentos!
domingo, 28 de agosto de 2011
Ritmos dessincronizados...
Na maior parte das vezes sinto-me parada no tempo... sinto que tudo se move, que o mundo avança e eu estou sentada a ver a vida correr... sinto que me adapto, me moldo ao contexto envolvente deixando de ser eu e passando a ser o que querem que seja... não sou uma adolescente à procura de identidade, mas talvez apenas alguém que quer agradar. Sinto que me desiludo porque o ritmo do que quero e a velocidade do que acontece não estão sincronizados... é um sentir constante, como que existisse num tempo paralelo entre o ser e o estar... esquizofrénico este meu sentir, no mínimo.
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
Um agradecimento aos bombeiros...
O cenário é horrendo e ao mesmo tempo encantador… ouve-se o crepitar da madeira, o estalar dos pinheiros e o cheiro é imundo, um cheiro que nos entranha no cabelo, na roupa e na pele… cheira a queimado, tudo ardeu em nosso redor, está calor e a imagem é sombria… no entanto o fumo a subir, o tom cinzento como se fosse um nevoeiro que nos envolve, remete-nos para paisagens de bosques encantados onde se está a amanhecer… a adrenalina sobe, sentimo-nos úteis, sentimos que pertencemos a algo, a uma comunidade, estamos juntos por um propósito que é combater o fogo e impedir o seu alastramento. Quando olhamos em volta as pessoas choram, algumas gritam porque lhes é retirada a simbologia hereditária e familiar associada aquele espaço, para além de verem queimadas as culturas que tanto trabalho lhe deram e vai haver prejuízo e perda … no entanto hoje percebi porque se é bombeiro e porque essa profissão é tão aliciante para algumas pessoas… a adrenalina que dá estar ali naquele espaço cria vício. Continuo a admirar quem o faz com gosto e espírito voluntário, porque cada pedaço de terra salvo faz-nos sentir heróis, capazes e necessários. Nos dias que correm cada um depende de si próprio apenas, mas num incêndio há espírito de grupo e inter-ajuda! Ser bombeiro é viver em adrenalina, arriscar a própria vida e salvar o próximo, a todos vocês… Obrigada!
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
Hoje houve um incêndio...
Eu tenho a sorte de viver num local onde o sino toca quando há uma emergência e onde as pessoas calçam as botas e munem-se de sacholas e correm para ajudar os outros… hoje foi assim. Eram perto das 16h e despertam os nossos ouvidos para o alarme dado pelo sino e pela correria das pessoas, algo de errado se passa e recebo uma chamada que me avisa que anda um incêndio perto de minha casa. Estado de alerta ligado e primeira preocupação “onde estão os meus avós?”. Ainda por cima era próximo de uns terrenos da família e desato a correr, não se encontram em casa e corro para o local do incêndio, de sandálias, manguinha curta e sem qualquer material que me pudesse ajudar ou proteger… corre e depois pensas é assim que funciono. Chego e já se lá encontra quase toda a aldeia, os homens com os tractores a lavrar a terra, para impedir que progrida, com sacholas a mandar terra e as mulheres a baterem nas chamas com giestas para o apagar. Chegam os bombeiros, o helicóptero, que rápido tomam conta da ocorrência. Vejo a minha avó que me grita:
-olha o tractor, leva daqui o tractor que daqui a nada chega lá o fogo..
E sem pensar, subo para cima dele e como se o tivesse feito toda a minha vida, ligo o motor, levanto a caixa, coloco a mudança e arranco com ele… senti-me uma mulher cheia de força e potente em cima daquela máquina com cabine. Vou colocá-lo a casa, a são e salvo e volto a correr para o incêndio que nessa altura já se encontra apagado e eis quando me dizem:
-olha que tu… podia arder tudo mas primeiro salve-se o tractor!!
Imaginam a minha cara, quando me apercebo que em vez de uma boa ajuda, fui apenas salvar o património material… bem mas de sandálias e sem perceber nada do assunto… talvez tenha sido melhor isso do que andar para lá a estorvar…
segunda-feira, 1 de agosto de 2011
A que se resume uma vida?
Chego a casa, ainda trago o amargo sentir daquele momento, a morte de alguém tão próximo e o sentimento de dor que nos contagia… foi mais um pai que faleceu, mais um que deixa mulher e filhos a chorar a sua mágoa. Lembro-me de ti, nem outra coisa poderia fazer e procuro a “tua caixa”, aquele espaço pequeno e abafado que guarda pedaços de ti, de alguém que foste e que nunca conheci.
Abro a caixa e penso: em que se resume uma vida?
Aqui dentro tens:
-um boné da tropa
-umas fotografias (uma tua e de 4 raparigas, onde uma se apresenta como tua futura noiva…)
-um diário
-uma bola de ténis gasta pelo tempo
-folhas em tom de amarelo envelhecido e soltas de um livro antigo
-uns óculos de sol
-uma pulseira
-um cinto de pele
-um crachá
-uma moeda corroída pelo tempo
-algumas facturas de compras
-um pente
-cartas...
-um boné da tropa
-umas fotografias (uma tua e de 4 raparigas, onde uma se apresenta como tua futura noiva…)
-um diário
-uma bola de ténis gasta pelo tempo
-folhas em tom de amarelo envelhecido e soltas de um livro antigo
-uns óculos de sol
-uma pulseira
-um cinto de pele
-um crachá
-uma moeda corroída pelo tempo
-algumas facturas de compras
-um pente
-cartas...
Coloco-as em ordem crescente de datas, de forma a fazer uma sequência temporal e começo a devorá-las com o entusiasmo de quem as recebe pela primeira vez… algumas são-me endereçadas e isso faz-me chorar.
Fazes-me falta, fazes-me tanta falta… Leio o teu diário e escreves momentos e situações que me fazem rir e sentir-me perto de ti, tão perto como se estivesse no teu tempo e escrevesses ao meu lado. Quero acreditar que o que escrevo e a forma como o faço derivem do teu ADN e sinto-me feliz por ter algo teu, algo nosso! A minha irmã sempre foi mais parecida contigo, dizem que quer fisicamente, quer na sua personalidade, dizem que ela herdou o teu gosto pela terra e pelos animais… eu tentava buscar algo “nosso” e agora acho que o encontrei, é o gosto pela escrita, pela anotação e relatos dos nossos acontecimentos quotidianos e da nossa vida. Ao escrever algo, ele permanece “vivo” durante muito tempo e mal imaginarias tu que a tua filha, hoje com a idade com que faleceste estivesse a ler as tuas cartas e o teu diário de solteiro. Por teres deixado algo para mim, mais do que a minha própria vida, eu agradeço-te, recordo-te e vivo-te! Hoje e neste bocadinho de tempo sei que estás comigo, não importa o que aconteceu, hoje estás aqui. OBRIGADA PAI…
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