Estou a acompanhar uma situação familiar a nível do domicílio, em termos profissionais consiste em fazer uma visita semanal e saber como estão as pessoas e como tem sido a evolução, por aí fora.
Aqui neste ambiente mais familiar e modesto as pessoas sentem-se em dívida para quem trabalha ou mostra alguma preocupação (coisa que não é nada mais do que o meu trabalho) e tentam agradecer oferecendo algo em troca.
Neste caso a sra. esteve a mostrar-me a casa e quis que comesse chocolates, que tomasse um chá, que comesse um pão com queijo... enfim e continuava a insistir mas eu, por motivos éticos não poderia aceitar. Para que mudasse de assunto resolvi dizer-lhe para irmos dar um passeio e conversarmos enquanto andávamos, pois estava o tempo agradável.
Descemos as escadas e foi mostrar-me os animais que tinha (coelhos, galinhas, cães, um burro e um porco) entretanto começou a oferecer-me os animais e eu insistia que não queria, fomos ver os coelhos que tinham parido recentemente e perguntou-me se queria um coelho?! Confesso que eram tão fofinhos que fiquei tentada a dizer que sim, já me imaginava a criar um coelhinho e fazer festinhas, são mesmo fofinhos e cabem na palma da mão de tão pequenos... mas resisti e afirmei que não era necessário, que agradecia muito mas que não tinha espaço para ele.
Ela logo prontamente disse:
- mas só lho ia dar depois de crescido, já morto para fazer um belo arroz de coelho.
Que horror!!! que brutalidade (pensei eu)
De seguida ela disse:
-Só se quiser que lhe mate já um, leva um destes maiores.
-Não, não deixe estar, a sério. Obrigada (respondi eu)
-Olhe das duas uma ou leva o coelho que vou matar ou leva um litro de azeite
-ok o litro de azeite!
E foi assim que destruindo toda a minha ética e moral saí de casa dela com um litro de azeite... mas a vida daquele coelho pareceu-me mais importante...
se bem que sei que não será longa, mas....
A azeitoneira que salva coelho.. Beijos
ResponderEliminarCara amiga e colega de profissão, depois de ter lido atentamente o teu blogue, não posso deixar cair esta situação sem ao menos dispensar um minuto a ela. De facto sempre nos ensinaram tanto na faculdade como após ela que não devemos nem podemos aceitar "ofertas" de pacientes. No entanto, atrevo-me a dizer que há situações e situações, meios e culturas que por serem diferentes também merecem uma atitude e comportamento diferente. A situação coelho/azeite ainda que caricata (não sei o que teria sido melhor, o coelho ou o azeite!) reflecte apenas o meio onde te encontras a viver actualmente e faz lembrar os médicos das aldeias de antigamente. Fico a pensar se será importante termos em consideração o meio e a cultura onde estamos inseridos... Se na capital do nosso país e por gratidão um paciente quisesse agradecer-me o trabalho desenvolvido de certeza que me diria: "Obrigada, foi muito importante para mim!"; No interior do nosso país o paciente diria com toda a assertividade do mundo: "Das duas uma, ou leva o coelho ou leva um litro de azeite. A dra. é que escolhe". Sinceramente, acho que deve ficar ao critério do nosso bom senso enquanto profissionais. Iria eu aceitar o agradecimento do paciente da capital?
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