Obrigada pela Visita

Relatos de uma mudança de contexto... onde a vida nos leva! Fiquem para acompanhar, tudo se baseia em factos verídicos, são mesmo verdadeiros estes momentos!



quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Não consigo aceitar...

"Não viva para que a sua presença seja notada,
mas para que a sua falta seja sentida..."





Hoje é um dia triste, morreu um conhecido meu... Alguém a quem me habituei a ver crescer, desde miúda que me lembro dele ...nas festas da aldeia, a tocar o bombo no S. Brás, no grupo de jovens e depois devido à vida profissional e percursos diferentes fomos ficando mais distantes mas quis o destino que ambos regressássemos ao interior e às aldeias que nos viram crescer, ele como polícia e eu como psicóloga. Depois era hábito vê-lo fardado... tal como é natural respirar e comer... e agora assim sem mais nem menos ele morreu!!! Não consigo perceber como é possível que tenha tido tantas oportunidades para falar com ele e conhecê-lo melhor mas nunca o fiz... fui sempre deixando para outro dia, porque afinal de contas ele iria estar sempre por perto... Não consigo aceitar que as pessoas desapareçam assim tão de repente, não estava preparada e pode parecer estúpido e egoísta este meu pensamento mas eu amanhã quero passar por um gnr e ver que é ele, quero vê-lo no S. Brás simplesmente porque me habituou à sua presença e perdi todas as possibilidades de o conhecer melhor...  Não consigo aceitar que nos toque tão perto a maldita morte... Não consigo deixar de me arrepender por todas as conversas que nunca tive com ele... Onde quer que estejas desculpa... talvez nunca eu te tivesse feito falta, mas acredita que vou sentir a falta da tua presença. Não me consigo conformar que a ultima vez que te vi tivesse sido de facto a última... Lamento tudo o que passaste e no fundo espero que não tenhas sofrido... há vidas que são vividas para nos lembrarem que existe um fim e que as oportunidades são mesmo para não ser desperdiçadas. Obrigada J.S. contigo aprendi uma grande lição... Descansa em paz amigo...

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

E agora?


A minha lareira foi para obras... devido ao clima frio e gélido do interior, à modernização e qualidade de vida... tivemos que optar por um recuperador a lenha... Lá se foi a minha companheira das noites de insónia... a minha conselheira e confidente a quem quase em cima, sentada num banco de madeira e indo rodando de forma a manter as costas e a parte da frente quentes, eu partilhava os meus pensamentos. Como fazer agora? Conversar com uma porta em vidro e ferro?! Desabafar com os aquecedores incrustados na parede de cada divisão? Isso não faz qualquer sentido!!! Bem... a solução é mesmo deixar-me de saudosismos e começar a conversar com pessoas, ou então medicar-me para dormir de noite :D 
O "conversas da lareira" mantém o mesmo nome porque a ideia é que quem aqui venha encontre o conforto, a sensação de bem-estar e a diversão de um momento bem passado à luz e ao calor que só uma lareira consegue transmitir. Temas diversos do quotidiano banal de quem vive e se revive no "interior". 

terça-feira, 11 de outubro de 2011

As pessoas da minha terra...



As pessoas da minha terra têm línguas afiadas, pernas curtas e olhares vazios... Usam chapéus de chuva preta para se protegerem do sol e da chuva do Inverno... as pessoas da minha terra protegem-se, isolam-se e outras vezes unem-se para ajudar ou prejudicar... são contraditórias, complexas e singulares. A minha terra tem pessoas diferentes, únicas e adversas que tanto te querem mal como te amam ou tanto te são indiferentes como fazem parte de ti... é estranho este sentimento! As pessoas da minha terra são as que me melhor conhecem porque me viram crescer e fazem parte de mim e ao mesmo tempo as que menos me vêm como sou, me criticam, me apontam o dedo e me julgam... tenho saudades de algumas pessoas que partiram, de outros tempos, de ver a terra mais habitada e da juventude e força que transmitiam aqueles rostos... hoje vejo-as com outro olhar... Acho que me tornei parte da paisagem, das histórias e das vivências desta gente... hoje sou mais uma pessoa no meio das pessoas que habitam na minha terra... 

domingo, 28 de agosto de 2011

Ritmos dessincronizados...

Na maior parte das vezes sinto-me parada no tempo... sinto que tudo se move, que o mundo avança e eu estou sentada a ver a vida correr... sinto que me adapto, me moldo ao contexto envolvente deixando de ser eu e passando a ser o que querem que seja... não sou uma adolescente à procura de identidade, mas talvez apenas alguém que quer agradar. Sinto que me desiludo porque o ritmo do que quero e a velocidade do que acontece não estão sincronizados... é um sentir constante, como que existisse num tempo paralelo entre o ser e o estar... esquizofrénico este meu sentir, no mínimo.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Um agradecimento aos bombeiros...




O cenário é horrendo e ao mesmo tempo encantador… ouve-se o crepitar da madeira, o estalar dos pinheiros e o cheiro é imundo, um cheiro que nos entranha no cabelo, na roupa e na pele… cheira a queimado, tudo ardeu em nosso redor, está calor e a imagem é sombria… no entanto o fumo a subir, o tom cinzento como se fosse um nevoeiro que nos envolve, remete-nos para paisagens de bosques encantados onde se está a amanhecer… a adrenalina sobe, sentimo-nos úteis, sentimos que pertencemos a algo, a uma comunidade, estamos juntos por um propósito que é combater o fogo e impedir o seu alastramento. Quando olhamos em volta as pessoas choram, algumas gritam porque lhes é retirada a simbologia hereditária e familiar associada aquele espaço, para além de verem queimadas as culturas que tanto trabalho lhe deram e vai haver prejuízo e perda … no entanto hoje percebi porque se é bombeiro e porque essa profissão é tão aliciante para algumas pessoas… a adrenalina que dá estar ali naquele espaço cria vício. Continuo a admirar quem o faz com gosto e espírito voluntário, porque cada pedaço de terra salvo faz-nos sentir heróis, capazes e necessários. Nos dias que correm cada um depende de si próprio apenas, mas num incêndio há espírito de grupo e inter-ajuda! Ser bombeiro é viver em adrenalina, arriscar a própria vida e salvar o próximo, a todos vocês… Obrigada!

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Hoje houve um incêndio...


Eu tenho a sorte de viver num local onde o sino toca quando há uma emergência e onde as pessoas calçam as botas e munem-se de sacholas e correm para ajudar os outros… hoje foi assim. Eram perto das 16h e despertam os nossos ouvidos para o alarme dado pelo sino e pela correria das pessoas, algo de errado se passa e recebo uma chamada que me avisa que anda um incêndio perto de minha casa. Estado de alerta ligado e primeira preocupação “onde estão os meus avós?”. Ainda por cima era próximo de uns terrenos da família e desato a correr, não se encontram em casa e corro para o local do incêndio, de sandálias, manguinha curta e sem qualquer material que me pudesse ajudar ou proteger… corre e depois pensas é assim que funciono. Chego e já se lá encontra quase toda a aldeia, os homens com os tractores a lavrar a terra, para impedir que progrida, com sacholas a mandar terra e as mulheres a baterem nas chamas com giestas para o apagar. Chegam os bombeiros, o helicóptero, que rápido tomam conta da ocorrência. Vejo a minha avó que me grita:
-olha o tractor, leva daqui o tractor que daqui a nada chega lá o fogo..

E sem pensar, subo para cima dele e como se o tivesse feito toda a minha vida, ligo o motor, levanto a caixa, coloco a mudança e arranco com ele… senti-me uma mulher cheia de força e potente em cima daquela máquina com cabine. Vou colocá-lo a casa, a são e salvo e volto a correr para o incêndio que nessa altura já se encontra apagado e eis quando me dizem:

-olha que tu… podia arder tudo mas primeiro salve-se o tractor!!

Imaginam a minha cara, quando me apercebo que em vez de uma boa ajuda, fui apenas salvar o património material… bem mas de sandálias e sem perceber nada do assunto… talvez tenha sido melhor isso do que andar para lá a estorvar… 

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A que se resume uma vida?



Chego a casa, ainda trago o amargo sentir daquele momento, a morte de alguém tão próximo e o sentimento de dor que nos contagia… foi mais um pai que faleceu, mais um que deixa mulher e filhos a chorar a sua mágoa. Lembro-me de ti, nem outra coisa poderia fazer e procuro a “tua caixa”, aquele espaço pequeno e abafado que guarda pedaços de ti, de alguém que foste e que nunca conheci.

Abro a caixa e penso: em que se resume uma vida?

Aqui dentro tens:

-um boné da tropa
-umas fotografias (uma tua e de 4 raparigas, onde uma se apresenta como tua futura noiva…)
-um diário
-uma bola de ténis gasta pelo tempo
-folhas em tom de amarelo envelhecido e soltas de um livro antigo
-uns óculos de sol
-uma pulseira
-um cinto de pele
-um crachá
-uma moeda corroída pelo tempo
-algumas facturas de compras
-um pente
-cartas...
 
Coloco-as em ordem crescente de datas, de forma a fazer uma sequência temporal e começo a devorá-las com o entusiasmo de quem as recebe pela primeira vez… algumas são-me endereçadas e isso faz-me chorar.

Fazes-me falta, fazes-me tanta falta… Leio o teu diário e escreves momentos e situações que me fazem rir e sentir-me perto de ti, tão perto como se estivesse no teu tempo e escrevesses ao meu lado. Quero acreditar que o que escrevo e a forma como o faço derivem do teu ADN e sinto-me feliz por ter algo teu, algo nosso! A minha irmã sempre foi mais parecida contigo, dizem que quer fisicamente, quer na sua personalidade, dizem que ela herdou o teu gosto pela terra e pelos animais… eu tentava buscar algo “nosso” e agora acho que o encontrei, é o gosto pela escrita, pela anotação e relatos dos nossos acontecimentos quotidianos e da nossa vida. Ao escrever algo, ele permanece “vivo” durante muito tempo e mal imaginarias tu que a tua filha, hoje com a idade com que faleceste estivesse a ler as tuas cartas e o teu diário de solteiro. Por teres deixado algo para mim, mais do que a minha própria vida, eu agradeço-te, recordo-te e vivo-te! Hoje e neste bocadinho de tempo sei que estás comigo, não importa o que aconteceu, hoje estás aqui. OBRIGADA PAI…